Thursday, February 20, 2014

"Robocop"

O "Robocop" dirigido por José Padilha (Tropa de Elite), carece de humor presente no original de 1987. E falta carisma ao ator Joel Kinnaman, que interpreta Alex Murphy, longe da magnitude obtida por Peter Weller na obra de Paul Verhoeven. Mas a história não foge muito de sua versão oitentista. Estamos em 2028, e uma empresa, a Omnicorp, controlada por Raymond Sellars (Michael Keaton), deseja ver o policiamento das ruas nos Estados Unidos feita por robôs, a exemplo do que já acontece no exterior, como mostra uma cena em Teerã . Só que o senado americano barra seu projeto, afinal máquinas não tem alma. Então a ideia é de se usar um ser humano robotizado, um cyborg. E é aí que entra Alex Murphy. O policial perseguia traficantes de armas e acaba sendo vítima de um atentado, ficando com o corpo praticamente destroçado. Só sobreviverá se usar a armadura.

A princípio, meio que a contragosto, Murphy passa a trajar a armadura e combater o crime na violenta Detroit, e passa a ser visto como herói pela população. E ao contrário do filme original, ele tem total conhecimento de quem é, e se sente perdido sem a presença da mulher e do filho. Na outra versão, o Robocop tinha apenas lapsos de memória.

Padilha manteve a violência contida no original, mas nesta versão a afetividade predomina, principalmente na questão familiar. É um bom filme, e lembrem-sem de que Robocop, de 1987, é mais um filme cult do que propriamente uma obra de arte.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Doze Anos de Escravidão"

O diretor Steve McQueen, homônimo do grande ator dos anos 1960, não poupou cenas fortes e dramáticas em "Doze Anos de Escravidão". O filme é baseado no livro de Solomon Northup, publicado em 1853, nos Estados Unidos, e relata o drama vivido pelo próprio músico negro entre 1841 e 1853. Ele é nterpretado por Chiwetel Ejiofor e nasceu liberto, morava em Nova Iorque, era casado e pai de dois filhos. Um dia é convidado a se apresentar em Washington D.C., mas acaba sequestrado e levado para o sul escravagista para ser vendido como escravo. Primeiro para nas mãos do cristão Ford (Benedict Cumberbatch), que até via alguma coisa naquele negro, bom tocador de violino. Mas se vê obrigado a vendê-lo para outro senhor, o cruel Edwin Epps (Michael Fassbender), depois de Solomon confrontar um violento capataz, Tibeats (Paul Dano, de Sangue Negro).

Nas mãos de Epps, Solomon vai passar o inferno na terra, em seus longos anos de cárcere. Ele trabalha catando algodão, e o tronco e as chibatadas são castigos quase diários, pois todo o escravo tinha uma cota determinada para colher. E quem não a alcançasse, o castigo era a violência física, e que aos poucos ia também destruindo o espírito. McQueen dá closes nas costas laceradas dos escravos. Uma cena de enforcamento chega a ser angustiante. A câmera fica parada, fiocando em xxxx, pendurado por uma corda, enquanto as pessoas caminham ao lado, indiferentes ao seu sofrimento. Solomon também se vê obrigado a esconder a sua condição de homem culto, letrado.

Sim, o diretor é maniqueista. Os negros são todos sofridos e perseguidos, enquanto os brancos em sua grande maioria, são maus e racistas ao extremo. As atuações são ótimas. Chiwetel Ejiofor, Fassbender e principalmente Lupita Nyong'o, como a escrava Patsey, também objeto sexual do personagem de Fassbender, mostram em suas presenças de cena, uma época para se esquecer.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Clube de Compras de Dallas"

Matthew McConaughey está excepcional no drama "Clube de Compras de Dallas", dirigido por Jean-Marc Vallée. Ele vive o cowboy Ron Woodroof, texano homofóbico e cocainômano, que descobre estar com o vírus da Aids, e não consegue aceitar isso. Afinal, a história se passa em meados dos anos 1980, e a Aids é vista como uma doença exclusiva dos gays. À época, o único remédio disponível para combater a Aids era o AZT, controlado pelo governo. E Woodroof acaba descobrindo uma forma alternativa para se tratar - um coquetel de remédios que ele busca no México. E começa a vender para outros doentes, ganhando uma grana preta com isso. O título do filme vem daí: Woodroof criou um esquema onde os doentes pagavam uma mensalidade para receber o coquetel importado por ele.

Ao mesmo tempo, passa a ser perseguido pelas autoridades, que o consideram um traficante. E ele vai à Justiça para provar o contrário. "Clube de Compras de Dallas" tem além de McConaughey, que perdeu 20 quilos para viver Woodroof, outra excelente atuação, que é de Jared Leto. Ele interpreta o travesti Rayon, emagrecendo 18 quilos para o papel. Rayon também possui o vírus e no início causa repulsa no homofóbico Woodroof. Mas aos poucos os dois vão construindo uma amizade, já que Woodroof vai mudando seus conceitos quando passa a conviver com outros doentes como ele. Aliás, Woodroof é abandonado pelos amigos, que eram homens tão rudes e grosseiros quanto ele. A história é baseada em fatos reais.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum"


Llewyn Davis é um cantor de folk, ritmo predominante no underground de Nova Iorque no começo dos anos 1960. Ritmo, aliás, que consagrou Bob Dylan. E Davis (Oscar Isaac) quer viver de sua arte no filme "Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum", dirigido por Joel e Ethan Coen. Apesar de ter talento, o protagonista é um looser. Um pé rapado idealista, que não tem onde cair morto. Davis passa cada noite no sofá de um amigo diferente, gravou um disco que ninguém comprou. Tudo na sua vida dá errado, e ele começa a pensar em desistir de tudo, e voltar a trabalhar na Marinha Mercante, mas até nisso não consegue, após ter sua documentação extraviada.

Davis é tão azarado, que até mesmo engravida Jean Berkey (Carey Mulligan), que é mulher de seu melhor amigo, Jim (Justin Timberlake). E ela não se mostra nenhum pouco contente em ter se envolvido com Davis, e deseja abortar. E claro, ele terá de bancar o aborto, mesmo contando as migalhas do bolso. Jim, sem saber, também tenta ajudar Davis, o contratando para participar de uma sessão de gravação de uma músicas comercial. Afinal, todo mundo precisa de uns trocados. Davis, a princípio, se questiona se deve mesmo tocar, mas o dinheiro fala mais alto, mesmo que ele ache a música uma bobagem monumental.

Llewyn Davis é inspirado no músico Dave Van Ronk, que viveu aqueles anos conturbados no Greenwich Village e fez amizade com vários músicos, entre eles Bob Dylan. Só que Van Ronk jamais conseguiu atingir o estrelato.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Sem Escalas"


Liam Neeson especializou-se em filmes de ação, mas nada de excepcional - vide os dois Busca Implacável. Pois em "Sem Escalas", direção de Jaume Collet-Serra, Neeson volta a viver um agente da lei. Mas desta vez seu personagem é um homem atormentado, alcoolatra e traumatizado com a perda de uma filha e do divórcio complicado. Ele tem a missão de viajar disfarçado em voos internacionais para evitar atentados terroristas. E não é que numa viagem para Londres, Bill Marks se vê manipulado por alguém que lhe envia mensagens no celular, ameaçando matar os passageiros, caso não receba 150 milhões de dólares.

"Sem Escalas" acaba se mostrando um bom suspense. A tensão se mantém até o final, onde a ameaça no avião é uma incógnita. O próprio Bill Marks, em determinado momento, é visto como o suspeito. Será que ele estaria tendo alucinações e enviando a si mesmo as mensagens ameaçadoras? Todos os personagens focados pela câmera são possíveis suspeitos, num crescendo que só perde força nos minutos finais, ao se conhecer o assassino e o seu motivo para praticar o crime.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Philomena"

"Philomena", direção de Stephens Frears, é um filme simples, mas muito bem contado e com atuações acima da média de Judi Dench e Steven Coogan. A veterana atriz, 79 anos, vive Philomena Lee, uma simples enfermeira aposentada que decide procurar um filho após 50 anos, e recebe a ajuda do jornalista Martins Sixsmiths (Coogan). Os dois partem numa jornada a partir da Irlanda, terra natal de Philomena, até os Estados Unidos, aproximando-se de um road-movie.

Philomena passou 50 anos pensando no destino de seu filho, Anthony, que ela teve ainda na adolescência, e doado pelas freiras do convento onde ela foi internada pelos familiares a uma família americana. O filme não chega a discutir a ação da Igreja Católica, rígida em seu moralismo com jovens grávidas e vistas como imorais por familiares e religiosos. Mostra apenas que a Igreja foi intolerante com estas meninas, e como elas sofreram com o fanatismo das freiras. Mesmo com todo o sofrimento que lhe foi impigido, Philomena nunca abandonou a sua crença religiosa. E isso é um contraponto a Martin, ateu e arrogante.

O destino de Anthony é logo revelado, e na hora seguinte, "Philomena" trata de mostrar as consequências dos acontecimentos na vida da enfermeira e daqueles próximos a ele. Judi Dench e Steven Coogan formam uma boa parceria. Ela não tem medo de expor suas rugas, e faz o papel de uma mulher inculta, leitora de romances baratos e, às vezes desesperançada, e outras vezes, tendo certeza do que pretende. Já Coogan interpreta um jornalista arogante, beirando o pedante, que no início está lá mais em busca de uma boa história, e que aos poucos vai compreendendo o sofrimento daquela mulher religiosa.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

"Ela"

Amor, estranho amor. Em 2007, Ryan Gosling se apaixonou por uma boneca inflável em "A Garota Ideal" e é visto como um esquisito. Pois agora, Joaquim Phoenix se envolve com a voz de um programa de computador e as pessoas ao seu redor não vem nada de anormal em sua atitude. Ou seja, em "Ela", direção de Spike Jonze, as relações tecnológicas se destacam. Afinal, para que se incomodar com gente de carne e osso que só vai trazer problemas ao longo do tempo?

Joaquim Phoenix é Theodore, um redator recém separado e à beira da depressão. E ele se encanta com a voz de um programa de computador, que conversa com ele como se fossem velhos conhecidos. Aos poucos, Theodore vai se envolvendo até se apaixonar por aquela voz, inclusive fazendo sexo com ela. E para espanto da ex-esposa e dos amigos, ele revela estar namorando a máquina, que tudo bem, tem a voz sexy de Scarlett Johansson.

"Ela" mostra como as pessoas estão cada vez mais vivendo em seus mundinhos, abandonando qualquer contato físico. Mas Theodore não fica imune a paixão, que se mostra avassaladora.

Cotação: ótimo
Chico Izidro

Thursday, February 13, 2014

"Caçadores de Obras-Primas"


"Caçadores de Obras-Primas", dirigido por George Clooney, é baseado em fatos reais, ocorridos nos estertores da II Guerra Mundial. O filme é baseado no livro de Robert M. Edsel "The Monuments Men: Allied Heroes, Nazi Thieves, and the Greatest Treasure Hunt in History" (ainda sem tradução no Brasil), mas traz detalhes encontrados também no livro "Europa Saqueada", de Lynn H. Nicholas. Durante o conflito, os nazistas fizeram uma limpeza completa nas obras de arte no Velho Continente. Hitler sempre foi um amante da arte, ele mesmo quis entrar na Academia de Artes de Viena, sendo rejeitado duas vezes. E tinha como objetivo criar o maior museui do mundo em sua terra natal, Linz, na Áustria. Por isso, onde as tropas germânicas passavam, dilapidavam os museus e as coleções particulares, principalmente de judeus, que depois seriam exterminados.

Então o exército americano decide criar um grupo de conhecedores de arte para percorrer a Europa e recuperar as peças, muitas levadas por Hermann Goering, ministro da aviação nazista, e dono de uma coleção particular gigantesca em sua mansão, Carinhall. O filme resgata a luta incessante destes homens, conhecidos como Monument Mens, ou Homens Movimentos, aliás, o título original do longa metragem, estrelado pelo próprio George Clooney, como Frank Stokes, o líder do grupo, Matt Damon, John Goodman, Jean Dujardin e Cate Blanchett, que interpreta Claire Simone, personagem real que trabalhava em Paris, no Louvre, e vendo os nazistas levarem milhares de obras da cidade para a Alemanha. Ela fazia o papel de colaboradora, mas na realidade trabalhava para a Resistência Francesa, e catalogou em um caderno todas as obras saqueadas pelos germânicos.

"Caçadores de Obras-Primas" é um filme simples, sem muitas invenções, e por isso mesmo de fácil compreensão e assimilação.

Cotação: bom
Chico Izidro

"Quando Eu Era Vivo"

Um filme em que quase nada acontece em seus primeiros 60 minutos: "Quando Eu Era Vivo", direção de Marco Dutra, é considerado terror psicológico. Mas o que menos vemos são sustos. Aliás, eles inexistem. Mas existe uma tensão crescente em saber qual será o destino do personagem principal, Júnior (Marat Descartes), que após uma separação dolorosa, volta a morar com o pai, Zé (Antônio Fagundes), no antigo apartamento da família, no centro de São Paulo. Porém, ao chegar lá encontra seu quarto de infância ocupado por uma estudante de música, Bruna (Sandy Leah, ela mesma, a cantora).

Aos poucos, Júnior vai fuçando nas coisas velhas deixadas pela sua falecida mãe, e começa a pirar. Sua atitude passa a incomodar profundamente seu pai, que começa a desejar que ele caia fora. Marat Descartes tem a cara ideal para representar um cara que vai enlouquecendo pouco a pouco com as lembranças do passado, e Sandy não se sai mal como a jovem ocupante do quarto de xcxxx. Mas claro que ela não poderia passar em branco, e deixar de mostrar seus dotes musicais. Antônio Fagundes, por sua vez, tira de letra no papel de um aposentado incomodado com a presença de alguém que traz o passado que ele pretende esquecer, vir à tona.

Pena que o filme não chegue a lugar nenhum, depois de tanto mistério e expectativa pelos sustos, que nunca chegam. O filme é baseado no livro " A Arte de Produzir Efeito sem Causa", de Lourenço Mutarelli, que faz breve aparição como um motorista de táxi.

Cotação: regular
Chico Izidro

Thursday, February 06, 2014

"Trapaça"

Mesmo um filme repleto de estrelas de primeira categoria não indica que vai vingar. É o que acontece com "Trapaça", direção de David O. Russell. A história é interessantíssima, passada nos bregas anos 1970, mais exatamente em 1978, onde um casal de trambiqueiros cai nas malhar do FBI, e se vê obrigado a agência a desmascarar políticos corruptos.

O casal é formado por um barrigudo e careca Irving Rosenfeld (Christian Bale) e a bela Sydney Prosser (Amy Adams), que vivem de pequenos golpes, mas acabam sendo descobertos pelo agente Richie DiMaso (Bradley Cooper). Para não irem em cana, ambos aceitam participar de esquema para pegar políticos corruptos, principalmente o prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner). As coisas degringolam quando aparece na jogada a esposa nervosa de Irving Rosenfeld, Rosalyn (Jennifer Lawrence), descontente com o envolvimento do marido com Sydney.

A caracterização de época é perfeita, assim como a atuação do elenco poderoso - todos de primeira linha de Hollywood. Pena que em determinado momento, a trama se mostre confusa, tentando resolver tudo de uma hora para a outra, desperdiçando roteiro baseado em fatos reais, ocorridos exatamente àquela época retratada.

Cotação: regular
Chico Izidro

"Eu Não Tenho a Menor Ideia do Que Tô Fazendo Com a Minha Vida"

"Eu Não Tenho a Menor Ideia do Que Tô Fazendo Com a Minha Vida", dirigido por Matheus Souza, é um filme fofo, com a fofa Clarice Falcão no papel principal. Ela é Clara, jovem estudante de medicina, que passa os dias matando aula. Afinal, ela não sabe nem se é mesmo medicina que pretende seguir na vida. Clara perambula pelo pátio da faculdade, por restaurantes, até conhecer um jovem num boliche, Guilherme (Rodrigo Pandolfo).

Ele passa a agir como um guia para Clara, que vê sua vida mais confusa ainda quando descobre que os pais voltarão a morar juntos após quase duas décadas separados. Seguindo as orientações de Guilherme, Clara vai tentando encontrar seu destino. Ela passa a se fingir de advogada, ao contar mentiras para os pais durante o jantar, ou em ser engenheira, começando a construir uma casa numa árvore, geógrafa, ao andar pelos pontos turísticos do Rio de Janeiro, onde a história é ambientada, e até mesmo de psiquiatra, tentando ajudar o avô e os tios a resolverem seus problemas. Clara ainda tem um namoradinho, que nunca aparece na história.

Clarice Falcão, conhecida por seu estilo musical indie e pelos vídeos do Porta dos Fundos, segura bem a barra de mostrar uma jovem indecisa e insegura, mesmo que suas dúvidas sejam de classe média, sem problemas financeiros. O que pesa na vida de Clara é uma dúvida existencial, que mesmo assim não lhe tira o bom humor e a esperança.

Cotação: bom
Chico Izidro